06 setembro 2006

WiMAX, PON e o mercado de telecomunicações

Alguns visitantes desse blog, principalmente os amigos e aqueles com quem tive a oportunidade de trabalhar, sabem que apesar de possuir uma carreira imensamente restrita à segurança da informação, minha capacidade de dar pitacos ultrapassa esses limites profissionais. Essa paixão pela futurologia barata é um hobby delicioso mas certas vezes suspeito que eu deveria registrar alguns de meus palpites no cartório. Já se passaram alguns anos desde que cantei a bola para um ex-superior acerca do potencial dos chamados serviços gerenciados de segurança não obtive muito sucesso em convencê-lo (mas tudo bem afinal saí da empresa e o arrependimento seria enorme!) É claro que se algumas vezes e para alguns, esses pitacos fazem algum sentido, outras vezes e para outros, nem tanto. Ainda assim não pude me controlar em publicar o post a seguir.

Desde o meio da década de 90, com o início da explosão da Internet global o mundo vem observando uma incrível evolução do mercado de comunicações. Wide Area Networks foram foram rapidamente substituídas por redes virtuais. Não apenas isso mas até mesmo links internacionais de voz parecem apelar para sistemas de Voz sobre IP em algo que beira a inversão de valores.

Tudo vem se passando com tamanha velocidade que tropeços tornam-se inevitáveis e acabamos nos deparando com certos enganos do passado e como a memória é curta, acabamos não identificando os tropeços originais. Eliminadas as notícias sobre a relação entre Israel e os vizinhos, um assunto me deixou um tanto curioso nos últimos dias, a conturbada licitação pela chamada "banda WiMAX". De um lado uma tal "Associação Brasileira de Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas" de outro a famigerada "Associação Brasileira de Concessionárias de Serviço Telefônico Fixo Comutado" e no meio a Anatel, o Ministério das Telecomunicações e é claro, um ano eleitoral.

WiMAX, para quem não teve ainda a curiosidade ou tempo de entender, é um "padrão" de trasmissão digital de dados em alta velocidade e sem fios, algo que tem sido apelidado de Banda Larga sem fios. Trata-se de um sistema capaz de oferecer maior velocidade e uso mais eficiente das frequências utilizadas pela operadora. Apesar de ser uma tecnologia fenomenal, tenho certas dúvidas se estamos realmente diante do ocaso da telefonia fixa ou de um repeteco do fracasso da Vesper.

Para quem não lembra, Vesper era o nome das operadoras-espelho criadas pela Anatel para oferecer concorrência à telefonia fixa. Diante do enorme custo da instalação de cabos de telefonia nas grandes cidades, essa operadora optou pelos chamados WLL utilizando tecnologia CDMA. O modelo de negócio não deu lá muito certo e a empresa acabou sendo comprada pela Embratel que hoje comercializa esse serviço de voz sob o nome Livre. A mesma Embratel ainda oferece o Giro, um serviço de banda larga também baseado em tecnologias CDMA. Ambos os serviços estão longe de serem líderes em suas categorias e alto preço somado à cobertura limitada restringem significativamente o alcance dessa tecnologia.

Entram em cena as tecnologias PON, ou Passive Optical Networks, redes baseadas em fibras óticas capazes de viabilizar o chamado Fiber To The Home. Uma tacada extremamente agressiva por parte das empresas de telecomunicações Asiáticas e Americanas onde ao invés de tentar dar sobrevida à tecnologia dos telefones, as empresas de telefonia simplesmente optaram por oferecer serviços de telefonia através de fibras óticas que se extendem até a residência do usuário, viabilizando não apenas acesso à Internet em alta velocidade como a TV sobre IP, ou IPTV.

Em teoria PON é praticamente aquilo que as empresas de telefonia precisavam para finalmente serem capazes de concorrer contra o crescimento da oferta de Voice sobre TV a cabo. O sistema oferece uma combinação de capacidade transmissão de dados, capilaridade e tolerância à longas distâncias que promete acelerar o fim das linhas baseadas em cobre ao ser uma das poucas tecnologias efetivamente capaz de oferecer HDTV sobre IP.

Porém, não devemos esquecer, estamos falando do mercado brasileiro, mercado dos telefones pré-pagos, onde as operadoras de telefonia móvel não parecem muito otimistas com a implantação de tecnologias 3G e a receita das operadoras de telefonia fixa e móveis não dá sinais capazes de encher de esperanças o acionistas ansioso. Trata-se de um mercado em desenvolvimento onde os números do Japão, onde até 2005 cerca de 3.8 milhões de usuários já contavam com fibras óticas em suas residências, ou do uso combinado delas e intranets prediais, parecem ficção científica. Estaria o mercado brasileiro ávido por ser atendido por tamanha tecnologia? Tenho minhas dúvidas.

Algo me diz que assim como ocorreu durante o lançamento do WLL da Vesper o mercado está otimista com o potencial do WiMAX como um viabilizador de concorrência nos serviços de voz mas a verdade é que antes de ganharmos mais uma operadora precisamos de mais mercado para essas operadoras! Sejamos realistas, com base no PIB e nos números relativos à eletrificação rural podemos imaginar que excluídos os centros urbanos com grande concentração de renda, a demanda por redes de alta velocidade sem fio ainda é um tanto baixa e que se a idéia das operadoras é aplicar WiMAX como alternativa à comunicação fixa e banda larga, as limitações da tecnologia móvel acabarão por repetir o aquilo que aconteceu com a Vesper, que em plena explosão da Internet oferecia um sistema onde modems de 28.8kbps não ultrapassassem 14.4kbps. Me parece que será o HDTV Video on Demand o calcanhar de aquiles do WiMAX e que as operadoras que desejam efetivamente concorrer no triple pay precisam começar a se preocupar não apenas com a mobilidade mas com a capacidade de oferecer imagem e som em alta qualidade. As operadoras precisam entender que perdida a batalha pela TV Digital é melhor abrir o olho para não perder também a batalha pelo IP-HDTV. O espaço de manobra está cada vez menor e ao invés de pensar excessivamente em padrões tecnológicos as empresas precisam se preocupar com modelos de negócio.