deus é brasileiro,John Locke não. Locke deu sorte(ou não?)
Todos sabemos, deus é brasileiro, outro dia inclusive foi visto em tel aviv usando a camisa 10 da seleção. Camisa azul em total sintonia com a caricaturização do verde e amarelo nos dias de hoje.
Já John Locke foi filósofo, nasceu e morreu na Inglaterra. Deu sorte, tivesse nascido no Brasil jamais teria tido descanso e hoje seus ossos já teriam se esfarelado de tanto se remoer na tumba.
Enquanto vivo Locke defendeu o direito de rebelião dos cidadãos diante de um Estado incapaz de garantir os direitos de liberdade, vida e propriedade. Pergunto-me se Locke continuaria acreditando nessa tese diante da passividade de deus e seus compatriotas brasileiros diante da incompetência e quase ilegitimidade dos governantes desse país.
A novidade governamental vem novamente de São Paulo. Além de administrar o estado mais rico da federação o governo de São Paulo vem demonstrando nos últimos meses uma posição de vanguarda na administração da segurança pública. Não bastasse a suspeita de negociação com os líderes do PCC, a Secretaria de Segurança Publica daquele estado confirmou em nota oficial à imprensa que realmente está estudando a possibilidade de terceirizar a administração da base de dados de identidades e registros criminais do estado conforme informado pela Folha de São Paulo no último domingo.
Segundo a matéria da folha:
A novidade governamental vem novamente de São Paulo. Além de administrar o estado mais rico da federação o governo de São Paulo vem demonstrando nos últimos meses uma posição de vanguarda na administração da segurança pública. Não bastasse a suspeita de negociação com os líderes do PCC, a Secretaria de Segurança Publica daquele estado confirmou em nota oficial à imprensa que realmente está estudando a possibilidade de terceirizar a administração da base de dados de identidades e registros criminais do estado conforme informado pela Folha de São Paulo no último domingo.
Segundo a matéria da folha:
Durante toda a semana passada, uma equipe da Polícia Civil --que tinha inclusive o diretor do instituto onde ficam as fichas de quem tirou documentos em São Paulo-- percorreu algumas cidades dos EUA para descobrir como o sistema funciona lá e tentar definir como adaptá-lo à realidade paulista.
O repórter da Folha de São Paulo só não atentou para um pequeno fato. A maior parte dos civis norte-americanos jamais sujou os dedos de tinta!! Ao contrário do que a os filmes policiais nos fazem acreditar, nos EUA a identificação é quase que exclusividade das pessoas com histórico policial e/ou passagem pelas forças armadas! A identificação civil é restrita a determinadas profissões, sendo essa prática sujeita à legislação federal e estadual.
Assim, é difícil imaginar quais cidades americanas teriam servido como exemplo para a Polícia Civil de São Paulo... Apenas para se ter idéia dessas dimensões, se finalmente for completamente digitalizada, a base de dados de São Paulo nascerá com mais de 80% do tamanho do IAFIS, banco informatizado de impressões digitais do FBI, e considerado atualmente como o maior do mundo. Não é a toa que os estados brasileiros sejam continuamente assediados pelos principais fabricantes de sistemas de identificação civil e criminal.
Outro fato ignorado pelo repórter é que caso um dia o governo federal resolva regulamentar e fazer valer a lei 9454/97 o Brasil poderia tornar-se dono da maior base informatizada de impressões digitais do mundo. - Diga-se de passagem, o cronograma do Governo Federal continua um pouco atrasado.
Porém nem só de crítica vive o homem! Por ter trabalhado com biometria por alguns anos, e ainda ter bons amigos no ramo, vejo com enorme alegria a movimentação da equipe do secretário Saulo de Castro Abreu Filho! Quem sabe delegando à iniciativa privada o governo do estado finalmente consiga tirar do papel um projeto que já se arrasta há alguns anos. - Ainda é claro que isso sirva como prova da incompetência da administração pública brasileira.
Um ponto que me dá arrepios é a frase "exploração comercial desses dados", utilizada por um dos técnicos do governo. Ainda que eu como semi-liberal acredite no uso da eficiência da iniciativa privada como contrapartida à morosidade e incompetência do governo, a frase do técnico muito me lembra da venda, alí na Santa Ifigênia, de cds contendo dados pessoais sob tutela do governo ou de suas concessionárias. Não há dúvidas de que isso vai dar dor de cabeça no futuro.
Mas enquanto isso na Inglaterra de Locke... a tentativa governamental de criar um documento de identidade único com informações biométricas tem esbarrado em enorme resitência de parte da população. E olha que por lá o governo tem um pouco mais de respeito para com o dinheiro público. É curioso como o que para os compatriotas de deus é comum, para os compatriotas de Locke é uma afronta.
Nessas horas verdade seja dita, ainda bem que George Orwell morreu na Inglaterra, assim como Locke. Orwell era menos entusiasta do Estado e sua obra mais famosa é justamente o livro 1984. Nessas horas podemos dizer que deus deu sorte, afinal diante da incompetência do Estado brasileiro parece que nunca os brasileiros precisarão se preocupar com o livro de Orwell ou sonhar com as teorias de Locke!
Nota: George Orwell é apenas o pseudônimo literário de Eric Arthur Blair
Assim, é difícil imaginar quais cidades americanas teriam servido como exemplo para a Polícia Civil de São Paulo... Apenas para se ter idéia dessas dimensões, se finalmente for completamente digitalizada, a base de dados de São Paulo nascerá com mais de 80% do tamanho do IAFIS, banco informatizado de impressões digitais do FBI, e considerado atualmente como o maior do mundo. Não é a toa que os estados brasileiros sejam continuamente assediados pelos principais fabricantes de sistemas de identificação civil e criminal.
Outro fato ignorado pelo repórter é que caso um dia o governo federal resolva regulamentar e fazer valer a lei 9454/97 o Brasil poderia tornar-se dono da maior base informatizada de impressões digitais do mundo. - Diga-se de passagem, o cronograma do Governo Federal continua um pouco atrasado.
Porém nem só de crítica vive o homem! Por ter trabalhado com biometria por alguns anos, e ainda ter bons amigos no ramo, vejo com enorme alegria a movimentação da equipe do secretário Saulo de Castro Abreu Filho! Quem sabe delegando à iniciativa privada o governo do estado finalmente consiga tirar do papel um projeto que já se arrasta há alguns anos. - Ainda é claro que isso sirva como prova da incompetência da administração pública brasileira.
Um ponto que me dá arrepios é a frase "exploração comercial desses dados", utilizada por um dos técnicos do governo. Ainda que eu como semi-liberal acredite no uso da eficiência da iniciativa privada como contrapartida à morosidade e incompetência do governo, a frase do técnico muito me lembra da venda, alí na Santa Ifigênia, de cds contendo dados pessoais sob tutela do governo ou de suas concessionárias. Não há dúvidas de que isso vai dar dor de cabeça no futuro.
Mas enquanto isso na Inglaterra de Locke... a tentativa governamental de criar um documento de identidade único com informações biométricas tem esbarrado em enorme resitência de parte da população. E olha que por lá o governo tem um pouco mais de respeito para com o dinheiro público. É curioso como o que para os compatriotas de deus é comum, para os compatriotas de Locke é uma afronta.
Nessas horas verdade seja dita, ainda bem que George Orwell morreu na Inglaterra, assim como Locke. Orwell era menos entusiasta do Estado e sua obra mais famosa é justamente o livro 1984. Nessas horas podemos dizer que deus deu sorte, afinal diante da incompetência do Estado brasileiro parece que nunca os brasileiros precisarão se preocupar com o livro de Orwell ou sonhar com as teorias de Locke!
Nota: George Orwell é apenas o pseudônimo literário de Eric Arthur Blair
5 Comments:
Gostei! Principalmente o final :)
deus com "d" minúsculo no título foi proposital?
sim gustavo. o texto inteiro está com o d minúsculo em respeito à religião de alguns dos leitores.
A título de curiosidade a princípio eu por ser judeu escreveria D'us como forma de respeitar os "mandamentos".
bom artigo! mas me coloco de forma mais pessimista: não sei se isto se constitui necessariamente em um golpe contra a criminalidade e a corrupção. Tendo a acreditar que teremos apenas uma maior transparência das informações, mas que teriam que enfrentar ainda toda a mesma morosidade da justiça. além disso, as ambigüidades do sistema misto são pratos cheios para a corrupção... veremos.
Olha, uma nova opção de leitura! ;)
Devo acrescentar que nenhum americano depositou seu voto numa urna eletrônica como aqui e o fato de não serem informatizados não diminuiu a confiança nos resultados da apuração. Se existe algum problema neste país, é que cada vez fica mais difícil de acreditar em alguma coisa, pessoa ou instituição. E não vai ser com um banco de identidades digitalizadas que esse sentimento será aplacado...
A parte que me preocupa também é a da exploração comercial desses dados.
Afinal, não gostaria de um dia pedir uma pizza e passar por isso...
(quem acha que isso ainda está muito longe de acontecer, basta dar uma olhada no que já conseguimos comprar de informação oficial de cidadãos americanos aqui)
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