16 maio 2006

E foi a tarde e a manhã

E foi a tarde e a manhã

Cercas, carros blindados e seguranças privados têm sido nos últimos anos as armas do cidadão paulistano contra o crime crescente. Demorou alguns anos mas são paulo finalmente sentiu na pele aquilo que para os cariocas já virou rotina. Toques de recolher, delegacias metralhadas, pânico no metrô e o pior de tudo, a imobilidade do Estado.

Ontem chegou-se no fundo do poço. Da imprensa à polícia vimos exemplo de como o Brasil anda mal das pernas e com valores um tanto duvidosos. A imprensa brasileira há anos um mero apanhado de notas implantadas por assessores de imprensa fez sua parte na obra dantesca de ontem. Boatos tornaram-se fatos sem que fossem sequer investigados. Enquanto isso a polícia partia para o bang-bang ao invés de orientar e proteger o cidadão, mostrando claramente o porque do caos urbano vivenciado ontem. Os políticos como de costume partiram pra politicagem típica de ano eleitoral. E o cidadão?

O cidadão fez aquilo que já fazia por anos a fio e mais uma vez portou-se vergonhosamente. Há nos nos rendemos atrás de grades e blindagens ao invés de exigir o uso adequado de nossos impostos. Não é de hoje que acompanhamos felizes a construção de tuneis e avenidas enquanto escolas, saúde, segurança e transporte públicos eram sucateados pela roubalheira multipartidária. Acompanhamos em silêncio o patrimônio de políticos, juízes, sindicalistas e empresários crescer de forma ilegal e nos acostumamos com as pizzarias instaladas na Praça dos Três Poderes.

O verdadeiro culpado estava ontem sentado no sofá assistindo o jornal da globo e hoje estará lendo os editoriais baratos dos jornais impressos. Ontem o paulistano foi para casa falando em pena de morte e nos tempos da ditadura, ou então culpou a ditadura e a injustiça social pelos incidentes de ontem. Esquecem-se de gente como o General Lott que lutou mais por esse país do que José Dirceu e Lula, ou que a truculência e autoritarismo do MR-8 em nada deixavam a dever aos criminosos fardados que nos usurparam durante anos nossa própria cidadania.

Vergonha! Esse tornou-se um país sem lei, sem justiça e sem governo. Pior, esse tornou-se um país sem cidadãos! Nas eleições de 2006 teremos gente votando naqueles que supostamente defendem a palavra de deus mas roubam mais do que Barrabás! Veremos gente votando naqueles que defendem o autoritarismo militar e aqueles que defendem o autoritarismo vermelho. Quantos dias e anos de caos se passrão até que votemos naqueles que defendam um país democrático e uma constituição verdadeiramente protetora dos filhos desse país?

Ontem ficou claro porque existe uma grande diferença entre pagar impostos e sonegá-los. Ou porque anular o voto não é um ato sério! O futuro de nossos filhos não estará garantido até entendermos que não podemos fugir de nossas responsabilidades de cobrar respeito por nosso dinheiro e confiança. Não se trata de escolher bem em que votamos mas ao menos não esquecermos do nome dele e acompanhar suas atitudes.

São Paulo não tornou-se o Iraque apenas pela violência mas pelo total desprezo do brasileiro pela a democracia e às responsabilidades que ela nos trás. Que esse dia de caos sirva como um marco de mudança mais do que de pânico e que São Paulo não se una em um estúpido pedido de brutalidade mas em um clamor por seriedade, planejamento, inteligência e respeito! Vergonhosamente o crime percebeu antes do Estado e do cidadão que a força bruta é apenas uma das faces mais baratas do poder.

4 Comments:

At 2:57 PM, Anonymous Anônimo said...

é bem por aí mesmo.... mas a diferença entre o Brasil e o Iraque é que, neste último, em todo o fanatismo que parece levar a uma guerra civil, cada grupo parece possuir uma visão de futuro que norteia as suas ações. Certo, são totalmente incipientes, distorcidas, preconceituosas e violentas, mas formam planos para o futuro. O Brasil, ao contrário, é um país a deriva, incapaz de encontrar um norte e pouco disposto a se sacrificar para isto.

 
At 6:21 PM, Anonymous Anônimo said...

Fucão! A primeira reação é querer tacar fogo em presídio e jogar napalm na favela. Mas seu texto está tão claro e bem redigido que só nos deixa UMA pergunta: QUEM é o cara que merece nosso voto?

 
At 6:23 PM, Anonymous Anônimo said...

Esse é um post feito por um filho da pátria que está fora do país e que não perdeu seus vínculos e raízes, não perdeu sua identidade de brasileiro. Me orgulha muito um cidadão fora do país perder seu tempo escrevendo numa garrafa solta ao mar a sua indignação e tristeza por nós outros perdidos nesse mar de lama que se tornou o Brasil. Eu não tenho nada a acrescentar nem tirar. Você expôs em palavras o grito que existe em nós. Ponto.

 
At 5:38 AM, Anonymous Anônimo said...

o Brasil já perdeu pro crime faz tempo...em 2003 o governo de Sp veio dizer que o pcc era irrelevante, que não havia partido de crime nenhum. ora, ora. Eu não sei de onde se tirou isso, mas certamente a anta estava mal informada. talvez se tenha dito isso justamente pra criar uma "sensação de segurança" na população, de se achar que morando em certos lugares da cidade de São Paulo se fica imune a tudo isso. E era isso mesmo que acontecia até essa fatídica segunda, onde os paulistas endinheirados sentiram na pele o que é ser um cidadão comum e desprotegido. SP está muito longe do Iraque, não há comparação, pelas razões políticas e governistas, além de petroleiras e do Mr. Bush.
Giassti pergunta quem é o cara que deveríamos então votar. Acho que ele não vai aparecer nunca. pq vc pode até ter essa pessoa, mas ele vai ser rodeado de burocratas, de políticos corruptíveis, assessores incompetentes, dentre outros, pq não se governa um país sozinho. Alguns acharam que essa pessoa era Lula. mas tái...não era mesmo. Em vez de pensar então em quem votar, acho que vale pressionar pelo bom uso das verbas públicase principalmente pelo investimento em Segurança Pública. Enquanto o sistema prisional for dessa forma, não vai mudar nada. Não é, como diz o Lula, falta de investimento em educação e saúde. Seria muito bom se fosse só isso.

 

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